quinta-feira, 14 de março de 2013

E CRISTO CHOROU SOBRE OS PALÁCIOS DO VATICANO

      Um senhor estava um dia a caminho do centro comunitário, quando se viu transportado, não sabe se em sonho ou em espírito, aos jardins do Vaticano. Viu de repente um Papa, encurvado pela idade, todo de branco, cercado pelos seus principais cardeais conselheiros.            
          Faziam o costumeiro passeio após o almoço, andando pelos jardins floridos do Vaticano.          De repente, o Papa vislumbrou, a uns poucos metros de distância, a figura do Mestre. Este sempre aparece disfarçado seja como jardineiro para Maria Madalena seja como andarilho para os jovens de Emaús. Mas o sucessor de Pedro, afastando-se do grupo de cardeais, com fino tato,  identificou logo o Ressuscitado. Ajoelhou-se e quis proferir a profissão de fé que fez Pedro ser pedra, pois sobre esta fé  se constrói sempre a Igreja :”Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.
         Nisso foi atalhado por Jesus. Olhando o palácio do Vaticano ao longe e o perfil dos prédios da Santa Sé, disse Jesus com voz entristecida: ”Não te bendigo, sucessor de Pedro,  o pescador, porque tudo isso não foi inspirado por meu Pai que está nos céus mas pela carne e pelo sangue. Digo-te  que não foi sobre estas pedras que edifiquei minha Igreja, porque temia que então as portas do inferno poderiam prevalecer contra ela”.
         O Papa ficou perplexo e olhou o rosto do Senhor. Viu que caiam-lhe furtivamente duas lágrimas dos olhos. Lembrou-se de Pedro que o havia traído duas vezes e que, arrependido, chorara amargamente. Quis proferir algumas palavras, mas estas lhe morreram na garganta. Começou também ele,  o Papa, a chorar. Nisso o Senhor desapareceu.
         Os Cardeais ouviram as palavras do Mestre e se apressaram para amparar o Papa. Este logo lhes disse com grande severidade: ”Irmãos, o Senhor me abriu os olhos. Por isso, as coisas não podem ficar como estão. Temos que mudar e mudar em muitas coisas. Ajudem-me a realizar a vontade do Senhor”.
         O Cardeal camerlengo, o mais ancião de todos, afirmou: ”Santidade, iremos, sim, fazer alguma coisa conforme a vontade do Mestre  e segundo a tradição dos Apóstolos. Amanhã reuniremos todo o colégio cardinalício presente em Roma e, invocando o Espírito Santo, decidiremos como vamos proceder, consoante as palavras do Senhor”.
         Todos se afastaram pesarosos, vindo-lhes à memória aquelas cenas do Novo Testamento que se referem a Jesus chorando sobre a cidade santa, que matava seus profetas e apedrejava os enviados de Deus e que se negava a reunir seus filhos e filhas como a galinha que recolhe os pintainhos debaixo de suas asas.
         Um e outro entretanto, comentavam: ”irmãos, sejamos realistas e prudentes, pois nos toca viver neste mundo. Precisamos de edifícios para a Cúria e o Banco do Vaticano para recolher os óbulos dos fiéis e cobrir os nossos gastos. Podemos negar essas necessidades? Mas vejamos o que o Espírito nos inspirar”.
         No dia seguinte, quando os cardeais se dirigiam à sala do consistório, graves e cabisbaixos, o secretário do Papa veio correndo e lhes comunicou quase aos gritos: ”O Papa morreu, o Papa morreu”.
         Nove dias após, celebraram-se os funerais com toda a pompa e circunstância como manda a tradição.  Vindos de todas as partes do mundo, os cardeais desfilavam com suas vestes vermelhas e luzidias, quais príncipes de tempos antigos. Depois sepultaram o Papa.
     E ninguém mais se lembrou das palavras que o Mestre havia dito e que eles escutaram. E tudo continuou como antes nos palácios do Vaticano.  
                                               
 Douglas Elle

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