terça-feira, 19 de março de 2013

AOS GOLES...



Um bom vinho, melhora com a idade.
Fica mais encorpado, realça o sabor, entra em processo de fermentação, onde neste, adquiri um crescimento e uma densidade que o torna muito mais desejável e prazeroso ao seu degustador.

O Cristo, quando ergueu aquele cálice cheio de vinho (há! como queria ter provado aquele vinho), ele estava dizendo: “meus filhinhos, eu existo, vocês agora podem me ver. Eu sai do campo da especulação e me tornei “um” com vocês. Portanto, estejam comigo, eu quero está com vocês. Amadureçam em mim. Sejam vinho para o seu mundo, para o seu tempo”.

Estou com quase 30, faltam alguns meses apenas. Chego a um espaço de tempo onde a fermentação completou o seu ciclo. E agora pede pra ser provada, degustada. É um tempo de não se perder tempo com garrafas abertas. A degustação da vida pede goles rápidos e precisos, ou se transformará em vinagre podre, que nem serve mais para temperar.

-Não afaste de mim este cálice, Pai!
-Não afastes. Te reclamo. Sabes que preciso dele, transbordante.

Tomarei o cuidado de não ser covarde ao ponto de embriagar-me de ti e assim ter que encarar a vida com mais uma máscara.

A degustação da vida pede goles rápidos e precisos. Foi isso que falei. E não um torpor de mediocridade e lamentações, que fariam de mim um alcoólico religioso, escravo dos meus vícios e que a partir disso, transportaria todos as culpas pra ti, ou por causa de ti (foi a mulher que tu me destes....).

Não carrego comigo um odre, não há mais espaços pra reservas. Há apenas o tempo de usar taças e provar cada gota de vinho que derramastes por mim e assim seremos um, numa junção de sangue, suor, lágrimas e amor...

...Thim, Thim!!!

 DOUGLAS ELLE

quinta-feira, 14 de março de 2013

E CRISTO CHOROU SOBRE OS PALÁCIOS DO VATICANO

      Um senhor estava um dia a caminho do centro comunitário, quando se viu transportado, não sabe se em sonho ou em espírito, aos jardins do Vaticano. Viu de repente um Papa, encurvado pela idade, todo de branco, cercado pelos seus principais cardeais conselheiros.            
          Faziam o costumeiro passeio após o almoço, andando pelos jardins floridos do Vaticano.          De repente, o Papa vislumbrou, a uns poucos metros de distância, a figura do Mestre. Este sempre aparece disfarçado seja como jardineiro para Maria Madalena seja como andarilho para os jovens de Emaús. Mas o sucessor de Pedro, afastando-se do grupo de cardeais, com fino tato,  identificou logo o Ressuscitado. Ajoelhou-se e quis proferir a profissão de fé que fez Pedro ser pedra, pois sobre esta fé  se constrói sempre a Igreja :”Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.
         Nisso foi atalhado por Jesus. Olhando o palácio do Vaticano ao longe e o perfil dos prédios da Santa Sé, disse Jesus com voz entristecida: ”Não te bendigo, sucessor de Pedro,  o pescador, porque tudo isso não foi inspirado por meu Pai que está nos céus mas pela carne e pelo sangue. Digo-te  que não foi sobre estas pedras que edifiquei minha Igreja, porque temia que então as portas do inferno poderiam prevalecer contra ela”.
         O Papa ficou perplexo e olhou o rosto do Senhor. Viu que caiam-lhe furtivamente duas lágrimas dos olhos. Lembrou-se de Pedro que o havia traído duas vezes e que, arrependido, chorara amargamente. Quis proferir algumas palavras, mas estas lhe morreram na garganta. Começou também ele,  o Papa, a chorar. Nisso o Senhor desapareceu.
         Os Cardeais ouviram as palavras do Mestre e se apressaram para amparar o Papa. Este logo lhes disse com grande severidade: ”Irmãos, o Senhor me abriu os olhos. Por isso, as coisas não podem ficar como estão. Temos que mudar e mudar em muitas coisas. Ajudem-me a realizar a vontade do Senhor”.
         O Cardeal camerlengo, o mais ancião de todos, afirmou: ”Santidade, iremos, sim, fazer alguma coisa conforme a vontade do Mestre  e segundo a tradição dos Apóstolos. Amanhã reuniremos todo o colégio cardinalício presente em Roma e, invocando o Espírito Santo, decidiremos como vamos proceder, consoante as palavras do Senhor”.
         Todos se afastaram pesarosos, vindo-lhes à memória aquelas cenas do Novo Testamento que se referem a Jesus chorando sobre a cidade santa, que matava seus profetas e apedrejava os enviados de Deus e que se negava a reunir seus filhos e filhas como a galinha que recolhe os pintainhos debaixo de suas asas.
         Um e outro entretanto, comentavam: ”irmãos, sejamos realistas e prudentes, pois nos toca viver neste mundo. Precisamos de edifícios para a Cúria e o Banco do Vaticano para recolher os óbulos dos fiéis e cobrir os nossos gastos. Podemos negar essas necessidades? Mas vejamos o que o Espírito nos inspirar”.
         No dia seguinte, quando os cardeais se dirigiam à sala do consistório, graves e cabisbaixos, o secretário do Papa veio correndo e lhes comunicou quase aos gritos: ”O Papa morreu, o Papa morreu”.
         Nove dias após, celebraram-se os funerais com toda a pompa e circunstância como manda a tradição.  Vindos de todas as partes do mundo, os cardeais desfilavam com suas vestes vermelhas e luzidias, quais príncipes de tempos antigos. Depois sepultaram o Papa.
     E ninguém mais se lembrou das palavras que o Mestre havia dito e que eles escutaram. E tudo continuou como antes nos palácios do Vaticano.  
                                               
 Douglas Elle

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

IN MANUS TUAS COMMENDO SPIRITUM MEUM


E quando estiver lá no finzinho, depois que os cenários estiverem desmontados, as fantasias rasgadas, baixadas as cortinas, desfeitas as maquiagens, acabado o texto, morto o personagem?

Sobreviverei eu ao encontro de mim mesmo?

Resistirei ao me deparar com os olhares alheios, escaneando e revelando uma sequência inteira das minhas performances?

E aquele que você imitava? Perguntarão.

Gostava mais daquele dos fins de semana. Insistirão.

 Desço as escadas do palco com muito medo e angústia, por saber que encarar a verdade de mim mesmo será a derradeira sentença de morte a que serei submetido.

Mas estou decidido a fazê-lo.

Cansei de interpretar.

Já se passaram 29 anos e agora decidir ser quem eu nunca fui.

Principalmente depois de descobrir que nenhuma mascara pode ficar grudada em meu rosto.

Em instantes espirarei...

...é por isso pai, que “EM TUAS MÃOS, ENTREGO O MEU ESPÍRITO”.


DOUGLAS ELLE

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