quarta-feira, 10 de agosto de 2011

SALMOS DE UM DISCÍPULO MARGINAL - 2


Como é duro e amargo o nosso amadurecer, quando isso requer uma dose de coragem em tomar algumas decisões.

O peito aperta, a alma treme, o suor escorre pelas mãos, a voz falha, o pensar não se aquieta, as conseqüências futuras se tornam o agora, e a aflição nos aperta tão forte com seus enormes braços, que nem conseguimos nos mover para uma ação.
A decisão a ser tomada, me causa arrepios Senhor. Me deixa suspenso em meus afazeres e me arrasta para o túnel escuro da angústia.

Enquanto não te conhecia, Senhor, e vivia no submundo dos meus próprios desejos e prazeres, nunca houvera experimentado tamanha luta, tamanho afronte, mas agora que te sirvo, sou tomado constantemente e sem intervalos por dores na alma, que transformam o meu estado de ser homem. Falo como homem que sou, sem humanismo.
Isso se dá, pela propaganda enganosa que fazem de ti Senhor, e na minha total ingenuidade e hedonismo, acreditei nesse caminho frouxo, utópico, barato, vendido à preço de banana pelos profissionais da religião.

Semelhante ao teu servo Jó, o que eu menos desejava que me acontecesse, veio a tona na minha vida. Por isso que desabafo em lágrimas a minha dor diante de ti, Pai, pois só em ti eu encontro a liberdade de não poder esconder a naturalidade das minhas dores e necessidades.

Obrigado Senhor, por nesses instantes tu ser totalmente ouvidos para minha tagarelice consciente, por tu ser o aparador dos meus vômitos, que só fazem te sujar.

Quão fraco e frouxo me enxergo nos momentos onde deveria ser forte. Um homem que a pouco, se vira como um gigante diante das teorias relatadas por si mesmo, mas em face do absurdo que me acomete, me torno um trapo de medo e de temor.

Como um ramo da videira, acredito que chegou o momento da poda. Peço-te Senhor, um leve sopro do teu Espírito, para amenizar o ardor dos cortes. Sim, Pai, pois sei que haverá amputações nos membros da minha memória.

Enquanto isso Senhor, ponho-me de joelhos em cima do chão lavados por lágrimas, sabendo que em breve o teu manto me enxugará por inteiro...   

DOUGLAS ELLE   

sábado, 6 de agosto de 2011

SALMOS DE UM DISCÍPULO MARGINAL


Como dói o peso da cruz que carrego nos meus ombros, senhor.


Por um instante, penso que não irei suportar todo derramar de sangue e suor que escorre pelo meu corpo, deixando-me fraco, descontente, com a aparência de um pobre viciado, que já não mais consegue controlar o pulsar dos seus desejos.

Sou inteiramente dor. 
Os meus olhos já estão cansados de enxergar a latente e brutal covardia diante da verdade que me acomete e da mentira que prevalece ao redor de mim.

Não consigo sequer respirar fundo, pois o ar que entra pelas minhas fossas, corrói os meus pulmões já cansados da labuta infinita.
Ao meu lado estão aqueles que me chicoteiam com seus aguilhões de ódio e de rancor.

Não tenho como negar-te as questões Senhor, os porquês.

Toma Senhor, os pedaços do meu ser, pois estou totalmente em cacos, semelhante a uma taça de cristal puro, quando não suporta a pressão dos gritos ensurdecedores.

Não posso viver em face da mentira Senhor. Ela me destrói. Ela me consome.
Sinto-me impotente frente à maldade daqueles que diziam estar ao meu lado.
Eles negociaram e venderam a tua verdade, como um feirante prestes à findar o dia no comércio. Não se importando mais com o produto, apenas querendo desfazer-se dele e obter o lucro.

Definitivamente, não agüento mais Senhor.

Se estais a me provar, já sabias desde a eternidade que minha fé é semelhante a um castelo de cartas, basta um sopro teu.

Se queres me fortalecer, porque primeiro me quebras em pedaçinhos?

Perdoa-me Senhor, por não compreender os teus propósitos.

Mas dentro de mim o teu Espírito ainda há de soprar um vento de esperança...


            DOUGLAS ELLE

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

AGOSTO


Se inicia o mês dos ventos.

Das rajadas tempestuosas e fortes dos sopros dos céus. Ou pode ser, para aqueles que vivem no litoral, um abanar das ondas do mar. Ou ainda, para os naturais do campo, um canto de ninar das árvores.
Os navegantes e amantes das profundezas do oceano, dizem ser o braço forte das velas e dos remos.
            O fato é que nesse período do mês de agosto, todos nós experimentamos a sensação gostosa da brisa que nos envolve e nos refresca em pleno sol do meio dia. Dizem que é o tempo das férias do calor do sol, onde ele, o astro rei do universo, descansa para o prazeroso trabalho que terá logo em seguida no verão.
            Tempo também dos voos planos dos Urubus, dos Bem-te-vis, que planam tão longamente que fogem do alcance da nossa visão.
    Das pipas nos céus, dos muitos carretéis que são descarregados. No meu tempo de garoto, isso tinha nome, era o “Batismo” das pipas, dos papagaios. Dizia-se, quando um carretel de linha era todo solto no ar, que estava “batizando o papagaio”.
Lembro-me dos Evangelhos, quando nos ensina sobre um vento forte, que às vezes é frio para alguns e tem um calor escaldante para outros e que até já se foi visto sobre forma de uma ave. Concordo com o Rubem Alves, quando perguntado se estava firme com Deus, respondeu: “de jeito nenhum. Deus é espírito, vento impetuoso que sopra em todo lugar. Quem está no vento não pode estar firme...Pois eu estou mais é como um urubu, lá nas alturas, flutuando ao sabor imprevisível do Vento sagrado”.
Assim como nos carretéis das pipas, prefiro ser totalmente descarregado de mim mesmo e ser levado a voar nas alturas dos céus, para ser batizado por esse vento forte e planar na imensidão do universo, do que ficar firme como uma rocha, parada, estéril, aguardando por uma pseudo força do além, esperando nascer assas nas minhas costas para alçar voo. 
Com um vento forte desses, nem é preciso de assas. É preciso apenas abrir os meus braços e deixar-se levar pelo sopro do mistério.

E pensar que já há algum tempo, para conhecer os três, não tenho feito três orações. Tenho voado!





DOUGLAS ELLE

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